(Atenção! Contém spoiler)
Fomos fisgadas pelo título. “Eu receberia as piores notícias
dos seus lindos lábios” não pode ser título de livro ruim. A capa também é de
uma delicadeza gostosa. Desenho de pés femininos descalços ao lado de uma
câmera fotográfica. Marçal Aquino, o autor. Um senhor de traços brasileiros
simples, uma barba espessa, biografia invejável. Tentador.
Fomos à leitura. Diferente de outras feitas pelo grupo,
dessa vez fomos vorazes, comemos e bebemos o livro numa velocidade e
intensidade incríveis! Nos apaixonamos, trocamos muitas mensagens sobre as
nossas impressões, fizemos declarações de amor à narrativa do autor, ficamos
com gosto de quero mais quando finalizamos. Ficamos excitadas – em todas as
possíveis interpretações da palavra.
Mergulhamos no mundo de Cauby, fotógrafo que na descrição do
autor não era um cara apaixonante, mas despertou o desejo – e o amor também –
de Lavínia. Ah, Lavínia... Ela sim, sujeito e objeto principais da obra.
Lavínia não se parecia com Camila Pitanga – atriz que retratou a personagem no
cinema. Minha mente a desenhou como uma Paz Vega em “Lucia e o Sexo”. Tesuda
essa Lavínia, triste e doente também. O
livro é dedicado a “mujeres como yo no
las coneces; las contraes”, a todas as lavínias que estão dentro de nós. Lavínia é mulher que não se esquece – e nem se
quer esquecer; é mulher de extremos, de
“olhos antigos” e tem “cheiro de abismo”. Os homens têm medo dela, mas o
fascínio é maior que o pavor. Alguns pagam para ver e o preço é alto. Duvido
que algum se arrependa.
Marçal consegue descrever tão bem cenários, cenas,
personagens e sentimentos que a leitura é muito visual. A imagem de Lavínia
sendo arrancada das ruas pelo fervoroso pastor, seu posterior marido; o encontro da mulher com Cauby na loja de
Chang; o colunista afetado; a pensão de dona Jane; o amor quase platônico do
Careca; a casa incendiada; as pessoas da cidadezinha; o tatu velho; Lavínia
encolhida na porta da casa do fotógrafo; a viagem dos dois ao rio; a caixinha
que deveria ser quebrada; o estabelecimento psiquiátrico. E o sexo.
O livro trata de sexo. Sexo salva, sexo condena. Não à toa o
livro começa com a frase “O amor é sexualmente transmissível”. Lavínia era
bipolar. Às vezes pudica, às vezes Shirley. Louca e enlouquecedora. O pastor
viúvo redescobriu o sexo com ela; o fotógrafo virou sua vida do avesso por
causa do sexo dela. Lavínia foi abusada sexualmente quando criança, virou puta,
casou e traiu. Sexo rege muitas das relações e conexões do livro, mas não só
isso. Marçal não deixa que o livro caia nessa vala (quase) comum.
A redenção está no amor. O autor, para falar de amor, não
quis soar pretensioso e criou um personagem, o professor Schianberg, “o mais
obscuro dos filósofos do amor”, que era citado ao longo do livro tal como um
verdadeiro especialista. Marçal deixa pistas de que o doutor era fruto da sua
imaginação, mas parecia tão real que algumas de nós fomos googlá-lo
(descobrimos até que houve editora interessada em publicar o especialista no
Brasil – ponto para Marçal!).
Lavínia amou Cauby. Amou a tal ponto que se perdeu. Cauby
teve medo, ameaçou fugir, mas descobriu o amor de Lavínia e bancou. Era tarde
demais? O grupo se dividiu aqui. Lavínia voltaria do mundo paralelo que os
choques elétricos a levaram? Ou nunca mais seria Lavínia, sua essência havia se
perdido?
Cauby tinha esperanças. Ele tinha amor.